A Origem do Vassa | Appamado Bhikkhu

No tempo do Buda, na Índia, era comum os indivíduos deambularem
pelas montanhas, planícies e vilas, em busca de locais
com seclusão suficiente para a sua prática espiritual solitária. Muitas
vezes, ao saber da existência desses renunciantes, as populações
ajudavam-nos  na sua subsistência de forma a que eles se pudessem
entregar totalmente às suas práticas espirituais. Por vezes, ao verem que
um destes seres havia desenvolvido muita sabedoria, buscavam-no em
busca de respostas para as suas questões existenciais. Assim criava-se
uma harmonia sustentável entre o renunciante e as populações locais.
Também eram muitos aqueles que ao verem um ser sábio, o queriam
seguir e com ele aprender a chave para a libertação da roda da vida e da
morte.
Foi neste espírito e época que o Buda viveu e, como tal, muitos foram
aqueles que o seguiram para ouvir e praticar os seus ensinamentos. A
dada altura deu-se início a uma ordem monástica, visto os renunciantes
seguidores do Buda viverem sob determinado código de conduta e
doutrina.
Assim a vida dos primeiros monges era uma vida itinerante, na qual
caminhavam de vila para vila, ensinando, almejando alimento e dormindo
ao relento, tendo a copa das árvores como tecto.
Mas durante o chuvoso Verão indiano (monção) esta era uma prática
árdua. O Buda apercebeu-se também que, devido ao crescente número
dos seus seguidores, as colheitas sofriam o risco de ser danificas devido
a centenas e centenas de monges percorrerem os campos do país, pondo
também em perigo a vida dos inúmeros insectos existentes nesta altura
do ano. Assim, por tudo isto e para manter um sentido de coesão entre os
monásticos, o Buddha declarou que durante essa estação deveriam
permanecer fixos em determinado local, sendo esta também uma época
de retiro para os monges, onde poderiam dedicar-se mais intensamente
aos estudos e à prática da meditação. É também durante este período
que os monges mais novos têm a oportunidade de receberem instrução

dos que têm mais experiência. A este período chama-se vassa,
palavra Pali que significa ‘chuva’.
Por vezes as pessoas de maiores posses ofereciam guarida aos monges
nas suas propriedades. Eventualmente, algumas dessas
pessoas construíram casas permanentes para os monges, que viriam a ser
os protótipos dos primeiros mosteiros.
Com o desenrolar dos tempos os monges passaram e estar de forma
mais permanentemente em mosteiros, vistos as áreas florestais e rurais
terem diminuído, continuando-se no entanto a manter a tradição de ir às
vilas fazer ‘a ronda das almas’, que é como quem diz, os monges
percorrem as vilas, levando a sua gamela, para que desta forma quem
quiser ofertar alimentos o possa fazer, e quem estiver interessado possa
colocar questões.
O vassa começa no dia a seguir à lua cheia do oitavo mês lunar do
calendário budista, o que normalmente coincide com o mês de Julho,
sendo esta a data em que se celebra o primeiro discurso proferido pelo
Buda aos seus discípulos. Termina no décimo quinto dia do quarto
crescente do décimo primeiro mês lunar, normalmente em Outubro.
Enquanto que para os monges a época do vassa implica regras e
restrições especificas que visam intensificar a sua prática espiritual, para
os leigos esta é uma oportunidade não só para darem novo alento à sua
prática mas também na qual muitos decidem deixar algum hábito que
considerem nocivo, como fumar, comer carne ou beber bebidas
alcoólicas. Muitas vezes estas decisões são um ponto de viragem na vida
do ser. É também tradição haver ordenações temporárias durante
o vassa, na qual os indivíduos podem experienciar a vida monástica,
seguindo o código da disciplina e interiorizando os princípios do Dhamma.