Dentro do Budismo Theravada encontra-se a linha “A Tradição Kammatthāna (Meditação) da Floresta” que, hoje, mais conhecida como “Tradição Tailandesa da Floresta”, teve como seu marco fundamental o movimento inspirado e fundado por um monge do Nordeste da Tailândia no século XX, Phra Ajahn Mun Bhūridatta Thera (Phra – em pāli, Venerável). O seu impulso veio dar um novo fôlego e revitalizar o ensinamento prático do Buddha, iluminar novamente o caminho esquecido para o Nibbāna (Nirvāna em Sânscrito) e levantar o que nas antigas culturas era conhecido como a “Sabedoria do Guerreiro”.

Remontando ao passado, a tradição da meditação da floresta, vai ainda mais longe que o tempo do próprio Buddha. Era costume ver nesses tempos idos, na Índia e na região dos Himālayas, muitos que ao procurarem o caminho da liberação espiritual, deixavam a vida da cidade e da vila em busca de um refúgio na montanha e na floresta virgem. Num acto de renúncia às riquezas e aos valores mundanos, era esse o lugar ideal, pois a Floresta oferecia um espaço natural, agreste, em que os poucos que lá se podiam encontrar ou eram os “loucos”, os proscritos, ou os renunciantes espirituais. Era uma dimensão à parte da influência material e das normas culturais e desse modo, o sítio propício para o cultivo das qualidades superiores espirituais, que permitiam transcender essas mesmas limitações.

Aos 29 anos de idade, o príncipe Siddhārta Gautama deixa a vida do palácio onde cresceu e dirige-se para a floresta com o propósito de treinar as disciplinas do Yoga. A história é conhecida de como, insatisfeito, deixou os seus mestres, procurando o seu próprio caminho. Assim o fez, após o qual chegou à realização da essencial verdade a que ele denominou “O Caminho do Meio”, precisamente sob a sombra da árvore bodhi, ao largo do Rio Nerañjarā, onde hoje se situa Bodh-Gayā, no Estado de Bihar, Índia.

Até onde os registos históricos nos podem confirmar, consta que, uns meses depois do Buddha falecer, supostamente no século V a.C, foi reunido um grande Conselho de Anciãos de modo a formalizar e estabelecer os ensinamentos e as regras monásticas, na forma padrão do vernacular Pālibhasa –“A Linguagem dos Textos.” Cem anos mais tarde, dá-se a reunião do Segundo Conselho, novamente para verificar todo o ensinamento e com o intuito de criar um consenso geral em relação ao código e à doutrina. Foi então que se deu o grande cisma e a divisão entre os dois “veículos”. A maior parte do grupo quis a modificação de certas regras e veio a dar origem ao Mahāyāna – Grande Veículo, conhecido como Budismo do Norte, que se propagou principalmente para o Tibete (ramo Vajrayāna), China, Coreia e Japão. A minoria do grupo foi mais cautelosa em relação às modificações propostas, preferindo permanecer fiel à simplicidade estrita dos ensinamentos e não extrapolar o Dhamma tal como tinha sido legado pelo Buddha a seus Discípulos originais. Foi a partir deste grupo minoritário de Theras (em linguagem Pāli – Anciões), que 130 anos depois deste “Concílio”, surgiu a escola Theravada, Hīnayāna – Pequeno Veículo, caracterizado por ser o mais conservador, também conhecido como Budismo do Sul e que se propagou para o Sul e Sudeste, inicialmente Índia e depois, Sri Lanka, Birmânia, Tailândia, Laos, Vietnam, Malásia e Indonésia.

Por volta de 250 a.C, durante o reinado do Imperador Aśoka (§) (273-236), havia já várias linhas e escolas divergentes em todo o Sub-Continente Indiano. Foi então que se reuniu o terceiro Conselho Budista presidido pelo Venerável Moggaliputta Tissa Maha Thera, sob o patrocínio fundamental do Grande Imperador e onde foram decididas várias missões, enviadas tanto para dentro como para fora da Índia.

No desenrolar do tempo, houve outros grupos missionários que se dispersaram por outros países do Sudeste Asiático, a partir da Índia e do Sri Lanka, como Birmânia e mais tarde, Tailândia, Camboja e Laos.

Apesar da dispersão geográfica, a contínua retrospecção aos valores padrão do Cânone Pāli, foi mantendo a verticalidade central da Tradição, com todo o respeito e reverência pelo modo de vida e a disciplina que o Buddha realizou na floresta. Essa Tradição da Floresta, tem sido o modelo que tem vindo a subsistir apesar dos muitos altos e baixos ao longo dos séculos. Por vezes a Tradição desfalecia no Sri Lanka e lá vinham monges da Tailândia para a ajudar a levantar. Outras vezes era na Tailândia que sucedia o enfraquecimento e lá iam monges da Birmânia dar o seu fôlego e alento. Assim foi durante séculos, suportando-se e ajudando uns aos outros, mantendo o carácter original da “religião” à superfície.

Pelos meados do século XIX, o Budismo na Tailândia tinha adquirido uma rica variedade de tradições e práticas regionais. No entanto, o corpo geral da sua vida espiritual tinha-se degradado a par com o desleixo e a corrupção da disciplina monástica, encontrando-se ensinamentos de Dhamma misturados com nebulosos vestígios tântricos e animistas, aliados ao facto de que raros eram já aqueles que praticavam a meditação. Para piorar a situação, havia já a opinião generalizada, tanto pelo lado da fracção degenerada como mais ainda pelos “eruditos” da ortodoxia, de que já não era possível realizar o nibbāna (Nirvāna), ou até mesmo alcançar os estados iniciais de jhāna (absorção meditativa).

Isto foi uma situação que os revivificadores da Tradição da Floresta se recusaram a aceitar. E foi ao mesmo tempo uma das razões por que foram “catalogados” de independentes e agitadores pela hierarquia eclesiástica da altura, para além do desdém que muitos deles demonstravam pelos “monges de estudo” da própria linha Theravada ao asseverarem que «a sabedoria não se tira dos livros».

Este contraste é outro ponto crucial, e precisamente o chão maduro para que algo de novo surgisse. Uns poucos, insatisfeitos com a situação vigente, tal como o Buddha 2500 anos antes, sentiam a necessidade de ir mais longe. Não descurando o estudo do Cânone, voltavam então os seus olhos e as suas vidas novamente para os recantos selvagens das florestas e montanhas, como que se recolhendo à própria Natureza interior, buscando aí o retiro contemplativo e a meditação no contacto com o meio natural, trazendo assim à luz a prática da realização e da descoberta interior.

De entre as várias Tradições “silvestres” do Sudeste Asiático, aparece então aquela que tem vindo cada vez mais a atrair a atenção de um maior número de ocidentais pela sua originalidade e sobriedade, tendo já começado a criar raízes no Ocidente. É a “Tradição Kammatthāna (Meditação) da Floresta” da Tailândia, que veio a encarnar a “anima” fundamental da actual “Tradição Tailandesa da Floresta”, movimento esse que foi catapultado nos princípios do século XX pelo grande Mestre, natural do Nordeste da Tailândia, Phra Ajahn Mun Bhūridatta Thera, um dos baluartes da essência Budista que veio acender o espírito perdido da antiga “Sabedoria do Guerreiro”, e ao qual a “Tradição Tailandesa da Floresta” deve hoje o seu estandarte espiritual.

Nascido em 1870, filho de produtores de arroz na província nordeste de Ubon, ordenou-se como monge em 1892. Nesse tempo, o país sofria ainda os restos da anarquia provocada pela destruição do Reino de Ayudhya em 1767, piorando ainda mais a desorganização do já corrupto sistema monástico.

Havia então na época dois grupos principais de Budismo: o Budismo Tradicional, que veio a conhecer-se como Mahanikaya e que incluia uma múltipla variedade de costumes e ramos espalhados por todo o País, já em desleixo e com cultos vários à mistura, pouco já respeitando o Cânone Pali; e o grupo do Budismo Reformativo Dhammayutta, iniciado em 1820 pelo Príncipe Mongkut que, descontente com o desleixo corrupto da situação monástica, decidiu reordenar-se entre a disciplina dos rigorosos Mon, perto da fronteira entre a Tailândia e o Myanmar. O seu propósito resultou no alinhamento da prática com os ensinamentos do Cânone Pali.

Ao comportar uma abordagem mais racional e “científica” ao Dhamma, promoveu toda a erradicação de superstições, um estudo mais sério dos textos Pali e acima de tudo um novo rigor no Código e na Disciplina monásticas. Encontrando pouco apelo no grupo Tradicional, foi neste grupo Dhammayutta que mais tarde Ajahn Mun se veio a ordenar. O seu método de prática era solitário e rigoroso, dando bastante mais atenção às práticas de meditação do que ao lado teórico. Ele seguia o Vināya (disciplina monástica) fielmente, e observava também muitas das 13 dhutanga (práticas ascéticas) clássicas, como comer unicamente do que é oferecido, usar hábitos unicamente costurados com sobras, viver na floresta e comer uma só refeição por dia. Em busca dos refúgios nas florestas selvagens da Tailândia e de Laos, fez por evitar as obrigações da acomodada vida monástica, decidindo assim dedicar longas horas do dia e da noite à meditação.

Depois de vaguear largos anos com o seu Mestre, que nunca lhe garantiu que aquela prática conduzisse às Nobres Realizações, Ajahn Mun decide partir solitário, em busca de um Mestre que lhe pudesse mostrar seguramente esse caminho. A sua busca durou duas décadas por entre incontáveis desafios e dificuldades, à medida que foi percorrendo as selvas de Laos, Tailândia Central e Myanmar (Birmânia), mas nunca chegou a encontrar o Mestre que procurava. Amiúde, apercebeu-se que teria de seguir o exemplo do Buddha e tomar a Natureza selvagem como seu Mestre, não como medida simples de conformação às leis da própria Natureza – pois a própria Natureza manifesta samsāra (impermanência – transitoriedade) – mas sim como meio para discernir e alcançar na íntegra as verdades transcedentes a essas mesmas leis. Se Ele queria encontrar o caminho para além do envelhecimento, doença, e morte, Ele teria de apreender as lições de um ambiente onde o envelhecimento, a doença, e a morte estão claramente em evidência. Ao mesmo tempo, os encontros com outros monges da floresta, indicaram-lhe que aprender as lições da Natureza envolvia mais do que o simples aperfeiçoamento da perícia para a sobrevivência física. Ele teria também que desenvolver o discernimento para não se deixar levar para caminhos indesejáveis na sua meditação. E então, com profunda determinação e responsabilidade pela sua tarefa, regressou a uma região montanhosa da Tailândia Central e aí se estabeleceu sozinho numa caverna.

No seu longo caminho pelos recessos selvagens da Natureza, Ajahn Mun compreendeu que, contrariamente ao cepticismo de ambos os grupos Budistas Tradicional e Reformativo, o caminho para o Nibbāna (Nirvāna) não estava fechado. E que o verdadeiro Dhamma deveria ser encontrado, não em costumes, rituais ou textos, mas sim no coração e na mente bem treinados. Os textos seriam indicadores para o treino, nem mais nem menos. As regras do Vināya (disciplina), em vez de simples convenções externas, deveriam assumir um papel importante na perseverança física e mental. Quanto aos textos do Dhamma, a prática não deveria ser somente uma questão de fé cega, de afirmação ou verbalismo. Apenas ler e pensar sobre os textos, não podia oferecer uma adequada compreensão do seu sentido, nem obrigatoriamente significar verdadeiro respeito por eles. O verdadeiro respeito pelos textos, traduzia-se por tomá-los como um desafio: colocar os seus ensinamentos seriamente em teste, de modo a verificar onde na realidade são verdadeiros. Durante o teste dos ensinamentos a par com a meditação, a mente daria à luz muitas realizações inesperadas que não se encontravam nos textos. Estas por sua vez deveriam ser postas também sobre teste, de modo a que assim se aprende gradualmente por experiência e erro, até ao ponto da efectiva e Nobre realização. Só então Ajahn Mun dizia, «se teria compreendido o Dhamma».

Entretanto, ao assegurar-se de que o caminho para as Nobres Realizações e para o Nibbāna estava aberto, Ajahn Mun regressa ao nordeste e apesar da sua natureza reservada, com a sua singular e íntegra postura, foi cada vez mais atraindo admiradores e discípulos com vontade de encetar o estudo num meio mais silvestre.

O ponto vital desta figura pilar do Budismo Theravada e baluarte da actual “Tradição Tai da Floresta”, revela-se precisamente no equilíbrio que dentro das diferentes tradições, Ele próprio Ajahn Mun reuniu e lutou por conjugar e realizar dentro e ao redor da sua prática e disciplina. Ele conseguiu harmonizar o rigor da disciplina e da erudição académica inspirado pelo movimento Dhammayutta, com o lado prático em relação com a Natureza selvagem, revitalizando e inspirando ao mesmo tempo a ordem Mahanikaya.

Por esta altura, outro grande nome vinha-se levantando, alguém que iria alicerçar e catapultar todo o movimento e a essência inspirada por Ajahn Mun, através de todo o país e não só. Foi Ele o Venerável Ajahn Chah – Phra Bodhinyāna Thera. Tal como Ajahn Mun, Ajahn Chah nasceu na Terra de Isahn, nordeste da Tailândia, mais precisamente na chamada “Província dos Sábios”, Ubon. Aos nove anos decide deixar a família e ordenar-se num mosteiro local Mahanikaya. Aos vinte recebe ordenação completa como Bhikkhu (monge). Enquanto monge júnior estuda o básico do Dhamma, a disciplina e outras escrituras. À medida que estuda o Pali e traduz comentários do Dhammapada, apercebe-se da disparidade entre a sua vida e a dos monges na época do Buddha: eles vagueavam nas florestas “solitários, impetuosos e determinados”, e ele colado a um livro na sala de estudo de um mosteiro…estaria ele a perder o espírito da resolução? Até que ponto era o estudo académico importante? Algo dentro dele estava a permanecer abafado por declinações e aproximações limitadas na raíz das próprias palavras. Aquele não era certamente o caminho para a libertação. Insatisfeito com a sua situação e com o desleixo da disciplina local, decide partir em busca de orientação superior na meditação. Com outro amigo parte em tudong (peregrinação da floresta e dos meios silvestres).

Durante vários anos, caminham no estilo asceta, dormindo em florestas e cavernas, atravessando vários desafios e adversidades pelas selvas de Isahn. Encontram alguns Mosteiros e mestres da Floresta, com os quais passam temporadas, assimilando os seus ensinamentos e praticando a meditação. Foi durante a sua estadia no Mosteiro de Wat Kow Wongkot, que pela primeira vez Ajahn Chah ouviu falar no nome do monge que se viria a tornar uma figura legendária em toda a Tailândia, o monge mais reverenciado da sua geração, Ajahn Mun. Um leigo informa-o então de que Ajahn Mun, após ter estado dez anos retirado no norte, tinha regressado a Isahn, com um largo grupo de monges, estabelecendo-se nas montanhas de Sakon Nakon. É então que Ajahn Chah decide visitá-lo.

Num momento crítico, em que dúvidas inundavam o seu propósito monástico, este foi o encontro crucial que marcou profunda e significativamente Ajahn Chah até ao fim da sua vida. Assim que entraram no mosteiro de Ajahn Mun, Ajahn Chah foi imediatamente invadido pela atmosfera tranquila e discreta. Havia algo no mosteiro como em nenhum outro – o silêncio estava curiosamente carregado de vibração.

Depois de prestarem os devidos respeitos, entre várias perguntas, Ajahn Mun perguntou se eles tinham alguma dúvida em relação à prática. Ajahn Chah respondeu afirmativamente, manifestando o seu desalento com o estudo dos textos da disciplina que parecia ser demasiado pormenorizado para ser praticado: parecia não ser possível manter todas as regras. Qual deveria ser a norma a seguir? Ajahn Mun aconselhou-o como princípio básico a seguir os “Dois Guardiões do Mundo”: hiri (um sentido de vergonha) e ottappa (medo inteligente das consequências). Na presença dessas duas virtudes, Ele disse, tudo o resto se seguiria. Depois, discursou sobre o treino das três categorias do óctuplo caminho para o aperfeiçoamento: sila (moralidade), sādhana (concentração) e paññā (saber); e sobre as quatro Estradas para o Sucesso e os cinco Poderes Espirituais. Com uma autoridade exímia, descreveu a “forma como as coisas realmente são” e o caminho para a liberação. Ajahn Chah ficou perfeitamente extasiado.

Mais tarde, Ajahn Chah disse que apesar de ter passado um dia fatigante a caminhar, ao ouvir Ajahn Mun discursar, todo o enfado desapareceu, a sua mente ficou clara, serena, sentindo-se leve.

Ao segundo dia, Ajahn Mun deu mais ensinamentos e Ajahn Chah viu todas as suas dúvidas partirem com respeito à sua prática futura. Sentiu uma alegria e um êxtase no Dhamma com nunca antes. Agora o que lhe restava era pôr em prática o seu conhecimento. Sem dúvida, um dos ensinamentos que mais o inspirou desses dois serões, foi a instrução para se tornar a si próprio Sikkhibhuto, isto é – “Testemunha da Verdade”. Mas a explicação mais esclarecedora, que lhe deu o suporte necessário para a prática que até aí lhe tinha escapado, foi a distinção entre a mente ela mesma e todos os estados transitórios que aparecem e desaparecem dentro dela. Ajahn Mun disse que são meros estados. Ao não se compreender este ponto, tomamo-los como reais, identificando-os com a própria mente. Na realidade são só estados transitórios.

Ao terceiro dia, Ajahn Chah prestou respeitos e partiu com o coração cheio de uma inspiração de ouro, que jamais o haveria de deixar até ao fim da sua vida.

Diz-se que Ajahn Mun, ao interpretar o sonho de um discípulo sénior, intuiu ser Ajahn Chah o monge que iria espalhar a semente da Tradição da Floresta por toda a ordem Mahanikaya e criar um Sangha mais firme, com a fundação de vários mosteiros por toda a Província e País. E assim sucedeu.

Em 1954, Ajahn Chah regressa à província de Ubon. Aí é convidado a instalar-se numa densa floresta perto da sua terra natal, Bahn Gor. Esta floresta inabitada e conhecida como lugar de cobras, tigres e fantasmas, era nas suas palavras o lugar ideal para um monge da floresta. À medida que mais discípulos se reuníram à sua volta, estabeleceu-se o Mosteiro conhecido em seu nome, Wat Pah Pong.

Mantendo o código inspirado por Ajahn Mun e o espírito da Floresta, Ajahn Chah, com o seu estilo próprio de ensinamento simples, claro e austero, aliou uma característica fundamental à Tradição Kammatthāna da Floresta. Precisamente, um senso de comunidade e prática de grupo mais firme, promovendo um contacto mais próximo com a população e inclusivamente com o estrangeiro. Esta vem a ser a sua mais distinta contribuição à Tradição. Ou seja, independentemente do factor da Ordem, Ele conseguiu passar a essência da Tradição, de uma condição quase exclusivamente isolada nos recessos distantes e reservados ou confinamento das vilas, para uma condição mais alargada e próxima das comunidades em geral. Por outro lado, numa era de conturbada desorientação em que as florestas correm o grave perigo de extinção progressiva, este movimento mais comunitário vem também ajudar não só a Tradição a propagar-se mais a nível interno, como também ao nível internacional. Hoje, no princípio do século XXI, só na Tailândia, existem mais de trezentos mosteiros da linha de Ajahn Mun e Ajahn Chah espalhados por todo o País.

O próximo passo que a Tradição da Floresta vem a dar, deve-se primeiro que tudo a Ajahn Chah e logo de seguida à entrada na Tradição, daquele que foi o primeiro monge do ocidente nesta linha Theravada, Phra Rāja Sumedhācariya – Ajahn Sumedho. Foram estes dois grandes Avôs, que apadrinharam a radicação inicial da Tradição no Ocidente. Depois disso, surgiram muitos outros monges ocidentais.

Ajahn Sumedho nasceu em Seattle, Washington, em 1934. Cresceu no seio de uma família Anglicana juntamente com uma irmã mais velha. Entre 1951 e 1953, estudou Chinês e História na Universidade de Washington. Depois de servir quatro anos como médico-assistente na Marinha dos Estados Unidos, regressa à Universidade e completa o BA (Bachelor of Arts degree) o Bacharelato, em Estudos do Extremo-Oriente.

Os estudos introduzem-no ao Budismo através da leitura, enquanto o período de serviço na Marinha leva-o a entrar em contacto com a “Sociedade Budista do Japão”. Em 1961, inscreve-se novamente para concretizar o grau de Licenciatura MA (Master of Arts degree) em Estudos do Sul-Ásiático, na Universidade da Califórnia, Bekerley, onde se graduou em 1963.

Desiludido e insatisfeito com o dogmatismo da religião ocidental, decide em 1966, viajar até à Tailândia para praticar meditação em Wat Mahathat, Bangkok. Não muito depois, toma ordenação como monge noviço numa parte remota do País, Nong Khai, até receber ordenação completa em 1967.

Um ano de prática solitária segue-se. Apesar de frutificante, esse período mostrou-lhe a necessidade de um professor que pudesse guiá-lo mais activamente. Um encontro furtuito com um monge em visita, conduziu-o a procurar o seu mestre de meditação na província de Ubon, no “Mosteiro da Tradição da Floresta” (Forest Monastery) em Wat Pah Pong, o mosteiro de Ajahn Chah. Aceita Ajahn Chah como seu preceptor, tornando-se assim seu discípulo e ficando sob sua orientação íntima durante dez anos.

Em 1975, Ajahn Chah autoriza-o a liderar uma pequena comunidade de monges, não muito longe de Wat Pah Pong, fundando assim um “Mosteiro da Tradição da Floresta” para monges do Ocidente, Wat Pah Nanachat, “International Forest Monastery”, onde os ocidentais pudessem vir e treinar em inglês. No ano de 1976, Ajahn Sumedho realiza uma viagem à América de visita aos pais, não no entanto sem fazer escala em Inglaterra, sendo convidado a ficar num pequeno Mosteiro Budista em Hampstead, London. Uma segunda visita a este Mosteiro, no ano seguinte de 1977, acompanhado por Ajahn Chah, tornou-se o início da sua residência em Inglaterra, precisamente no Hampstead Vihāra (Vihāra – residência ou pequeno Mosteiro), a par com outros três monges.

Em 1981 é-lhe conferido o grau de Upajjhaya (Upajjhāya: preceptor) isto é um monge com mais de dez anos, que tem a autoridade de conferir ordenação monástica completa. Desde então tem ordenado centenas de aspirantes de diversas nacionalidades.

Desde então, com grandes esforços iniciais e muita vontade, foram fundados quatro Mosteiros desta Tradição em Inglaterra e mais oito no restante mundo ocidental, tendo assim a Tradição da Floresta da Tailândia, encontrado solo fértil em Portugal, estabelecendo-se o Mosteiro Budista Sumedhārāma.