Emoções Maduras
Emoções Maduras
Ajahn Vajiro
O Buddha fala nos seus ensinamentos acerca dos Brahma Viharas. Estes são normalmente traduzidos como o divino ou reinos celestiais, sendo esta uma interpretação baseada na tradução literal: Brahma – Deus; Vihara – habitat, habitação. Os Brahma Viharaspodem ser trazidos dos céus à terra se considerarmos que enquanto emoções eles impelem e encorajam a transcendência das limitações da existência humana. Esta ‘transcendência da limitação’ é uma definição de crescimento. Posso agradecer a semente desta ideia a um amigo que mencionou que os Brahma Viharas (metta, karuna, mudita e upekkha) poderiam ser considerados emoções maduras. O que se segue são algumas reflexões adicionais e não uma análise detalhada e abrangente dos Brahma Viharas, a qual poder ser encontrada em livros sobre Budismo.
Parece-
Por vezes, o objectivo do Budismo pode ser descrito de uma forma que me leva a pensar que se procura ter um coração frio, sem emoção ou paixão: onde não há resposta, sentimento, desejo ou motivação. Isto entra em conflito com a imagem que temos do Buddha, como alguém com uma forte motivação, com uma compaixão tão forte que o levou a viver uma vida em benefício dos outros seres humanos.
Emoções maduras também são aquelas emoções que permitem que os outros amadureçam. Assim, quando alguém age ou responde com uma emoção madura, os outros seres humanos são levados a transcenderem-
As quatro ’emoções maduras’, tal como são aqui explicadas, podem ser compreendidas, na prática, como estando interligadas. Elas são divididas apenas por conveniência, para que as possamos analisar e explicar. São como diferentes aspectos do mesmo sítio, diferentes formas de descrevermos o céu. Descrevemos os seus diferentes aspectos de forma a que isso nos ajude a encontrar uma maneira de nos apercebermos delas, de forma a expressá-
Metta – amabilidade/bondade – quando estabelecida em nós, encoraja-
Karuna – compaixão – funciona permitindo que nos apercebamos da dor, angústia, aflição, agonia, tormento e nervosismo dos outros, de uma forma clara, pois deixamos que essas emoções sejam também parte da nossa experiência, passando estas assim a ser algo que se moveu para além do universo do ignorado e inconsciente, passando a fazer parte do universo do incluso, aceite e consciente. A compaixão tem a característica de ‘espaço’, permitindo que as coisas existam tal como são, que se transformem e que cessem. Permite particularmente que a dor cesse. Isto significa que deve-
Mudita é normalmente traduzida como alegria empática. Apreço, alegria e ‘trazer alegria’ são palavras que evocam em mim as qualidades do coração que são o oposto de inveja e ciúmes, são o oposto das características que tencionam deitar alguém a baixo, subjugado-
Mudita implica a total consciência. Precisamos de descriminar, de ser conscientes, de nos abrirmos à possibilidade de apreciação. Algo que é particularmente encorajado é sermos conscientes do bem, das virtudes e da sabedoria nos outros e em nós. O que muditapermite é o surgir de uma aspiração de sermos ou praticarmos as características positivas que observamos nos outros. Luang Por Sumedho disse que quando podemos apreciar a beleza de uma rosa em plena abertura, podemos ser movidos por mudita. A sugestão é a de praticarmos a todos os níveis. Por vezes, quando olhamos para uma rosa, podemos ser apanhados no chamado ‘realismo’ e apenas observar uma flor que irá murchar. Podemos ser um pouco como ‘Scrooge’ com ‘bah humbug’ (humbug – embuste), uma resposta amarga a qualquer sugestão de que beleza pode ser apreciada sem cair no desejo de possuir ou de nos apegarmos. O equilíbrio surge quando upekkha está presente.
Upekkha – novamente aqui vai primeiro a tradução mais comum – equanimidade. Prefiro ‘serenidade’, com a sugestão implícita de aceitar a limitação e de nos erguermos acima dela. A frase ‘sê sereno na unidade do todo’ sempre me impressionou como uma bela sugestão para o meu coração, quando existe frustração com a cadência da vida, com as limitações do universo, com as minhas próprias limitações ou com as dos outros. Tem de haver uma aceitação consciente das coisas tal como elas são, para permitirmos que o coração se treine de forma a transcender essa limitação.
Ao nível mundano, se eu quiser treinar-
Os quatro Brahma Viharas funcionam em conjunto. Ajahn Buddhadasa descrevia upekkha como aquele que supervisiona os outros três. Em situações benéficas e harmoniosas mudita é a motivação madura do coração. Se for possível aliviar uma situação onde exista dor ou desconforto devermos invocar a compaixão (karuna). Uma situação feia e desagradável necessita de metta. Aceitação, um dos aspectos de metta, ressoa com a aceitação da limitação que está implicada em upekkha e é por isso que metta é um princípio tão importante.
Para a maioria dos seres humanos, e até mesmo para os animais, metta (tal como podemos encontrar na aceitação que uma mãe tem pelos filhos) é a primeira emoção que nos possibilita crescer e começar a amadurecer. Se não houver uma expressão de metta para com os nossos descendentes, particularmente para com uma criança humana, essa prole irá morrer rapidamente ou tornar-
A compaixão permite-
Mudita permite que desfrutemos da vida: a beleza e as maravilhas desta estranha experiência de sermos uma vida individual sensível, de alguma forma misteriosamente ligada ao todo. E quando permitimos que todo o medo do desconhecido caia por terra, a maravilha do desconhecido passa a ser apreciada e desfrutada.
O que nos move na vida, a meio de incertezas e mudanças, é aquilo que nos trás liberdade. As nossas intenções movem-
Tradução de Appamado Bhikkhu